O sonho colorido de Almodóvar a serviço da arte do exagero

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Almodóvar não quer imitar a realidade. Ele prefere viver sonhando. Um sonho colorido, um mundo reinventado. Para o cineasta, “uma pessoa é legítima quanto mais se parece com seu sonho”. Se a originalidade do espanhol é incontestável, ela se deve exatamente pelo seu olhar onírico e idiossincrático sobre a vida.  Nesse aspecto, pode-se ressaltar as cores e as interpretações exageradas do diretor, que mais do que ver, afirma usar as “cores que sente”.

Seus tons explodem, saltam aos olhos, assim como as emoções. Se eles são propositalmente afetados, os sentimentos não poderiam ser mais verdadeiros. Crus, rebeldes. Enquanto o amor, em muitos de seus filmes (como “A Pele que Habito”, “Fale com Ela” e “Má Educação”) é um mergulho no escuro, seu colorido extravasa uma sensibilidade ardente. É assim que são seus personagens: viscerais, passionais e obsessivos. A complexidade amorosa ganha lentes de aumento, revelando uma visão profunda e plural da paixão.

Ao mesmo tempo, critica as instituições sociais, a igreja, o preconceito sexual e o machismo. Suas mulheres são heroínas, repletas de tons vermelhos de poder. Apreendem o verdadeiro significado do amor, como em “Volver”, em que a personagem de Penélope Cruz aborda o sentimento materno que ultrapassa qualquer barreira, inclusive a relação homem-mulher.

Se, aparentemente, o viés folhetinesco dos filmes de Almodóvar pode soar como trivial, o cineasta mostra que, pelo contrário, proporciona uma experiência cinematográfica única. Dono de uma estética brutal, ele é como um leão devorador de arte e o faz com paixão. Costuma dizer que tem total poder sobre os atores, pois é o único espelho em que podem se mirar. “O diretor de cinema é aquilo que mais se parece com Deus”, afirma o espanhol. Nesse sentido, a sétima arte de Almodóvar se distancia do teatro, apesar das interpretações também remeterem ao excesso. O diretor faz questão de não perder sua marca, de impor seu estilo feérico. Essa é a verdadeira arte do exagero.